sexta-feira, 3 de novembro de 2017

conta-letras









à distância de um braço esticado, do meu corpo deitado na cama, tenho vários pares de óculos. todos eles aleijados, torcidos, desasados. mas estes que trago, agora que te leio, têm uma lente partida. são os que melhor me servem, quando te recebo a conta-letras. todas as palavras feitas para entristecer, escorrem, no seu trajecto descendente, por aquela fissura no vidro, e caem, insensíveis, feitas água, na pele nua que disfarça a carne, o sangue, a seiva, o ritmo descompassado da vida que lateja. sem que o saibas.