quarta-feira, 31 de maio de 2017

recebe-me








no teu abrigo, a tua enseada, o teu cansaço, as tuas palavras silenciosas, os teus gestos lentos, tu, perto de mim, o meu olhar mergulhado no teu, devagar.
sorri

sorri








terça-feira, 30 de maio de 2017

sobre ela








Ela sabe falar lhe de amor melhor do que eu. Ela cita poetas, transcreve escritores constrói prosas e versos. Eu, o único poema de que me lembro quando penso nele, é o do Eugénio que diz que 'devias estar aqui rente aos meus lábios', e devias, e depois perco me na ideia dos lábios dele e na ideia da pele dele e na ideia dele, que é tão bonito, ele, de todas as maneiras que eu acredito que as pessoas possam ser bonitas. Falar lhe de amor também não sei, a não ser deste impedimento que me vem por tanto gostar dele e não conseguir querer mais ninguém. 










segunda-feira, 29 de maio de 2017

voo









Estou lhe grata por não me dar asas para gostar de​le. 
Iria voar, como Ícaro.










domingo, 28 de maio de 2017

tapeçaria






cruzo ​as tuas palavras com as palavras dela​,​ 
com o que e​u ​sinto, 
com o tempo que voa​,
​com a distância do desconhecido
com a nitidez do invisível
com a cegueira da lucidez
e faço uma maré de mantas de retalhos, onde, navegando, me perco nos dias, 
sem mapa, 
sem bússola
sem leme.







sexta-feira, 26 de maio de 2017

arrisco tudo








eu não me enfeito para ele, não cuido da linguagem, descuro a leitura, escrevo de rompante, chego a horas impróprias, nunca parto, ofereço-lhe o meu cansaço, exibo o meu desejo, conto-lhe da minha alma, ele sabe do meu querer, exponho o meu lado frágil, mostro as minhas defesas.

arrisco tudo.







quinta-feira, 25 de maio de 2017

da proximidade









ele não sabe que quando diz dedos, pele, nuca, água, vem, suavidade, lentidão, o meu corpo estremece à distância de uma vida.









quarta-feira, 24 de maio de 2017

estratégia










Saio da tua vida às arrecuas, enquanto me conta do teu amor por ela. Se afinal me quiseres, direi que estou a chegar. Não saberás que tentei partir, e não consegui.







segunda-feira, 22 de maio de 2017

sonhei contigo
















quem me vê, não me vê, pois esta noite fiquei presa no sonho em que sonhei com ele. estava o corpo dele nu, junto ao meu corpo nu, ele, repousando no meu braço, o rosto sobre o meu peito, a perna dele a percorrer as minhas, até ao ventre, as bocas unindo-se num despertar. o meu.












nua por dentro












todos os dias me digo que vai ser hoje que te vou deixar em suspenso. mas depois tu vens e eu com esta vertigem a percorrer-me as pernas e o arrepio dentro dos olhos e uma emoção que não sei onde nasce e um querer que não tem raízes. então, eu, bebo de ti todas as palavras, percorro as tuas mãos, agasalho-me de ti, dispo-me para ti.










sábado, 20 de maio de 2017

sobre ele








ele deixa palavras espalhadas pelo meu corpo despertando em mim sentidos adormecidos 
eu durmo com ele, acordo com ele, banho-me com ele, passeio-me com ele, vejo o mar para ele, trago o sol na pele para ele, repouso-me nele, alegro-me por ele

e ele não sabe







vês, daí?










trazida suavemente do sono profundo pela ténue luz d​o amanhecer, abro lentamente os olhos,​ e, à minha frente estendem​-​se, cruzados​,​ um em cima do ou​tro​​, os meus braços, alongad​os​ ​na​ largura da cama. a cor da pele contrast​a​ com o branco do algodão. na sua extremidade pousam as minhas mãos, abertas, tão vazias das tuas.
















quinta-feira, 18 de maio de 2017

lascívia









a camisola que eu trazia era tão macia, que nem a senti descer e deixar-me o ombro desnudo. assim que percebi que ele tinha o olhar baboso pousado no meu corpo, puxei lentamente a malha de forma a que me cobrisse.
- és mázinha. se me estava a dar prazer olhar para o teu ombro, porque o cobriste?
não respondi. incomoda-me o prazer lascivo que possa ter quem eu não desejo, ao olhar para mim.
na boca trago ainda o travo amargo, de tempos longínquos, quando, fingindo que dormia, o sentia destapar-me os lençois para observar o meu corpo semi-nu, deitado, e o movimento do colchão de seguida.










trajecto






ele lê poetas, eu leio almas.​ procuramos o mesmo por caminhos diferentes.







quarta-feira, 17 de maio de 2017

amar por dois










é claro que eu não posso amar por dois. mas posso aceitar, pacificamente, o meu amor unilateral, por ele.








terça-feira, 16 de maio de 2017

sobre a procura








cansado, despir-te do dia, chegares a mim rendido e seres inteiro no meu abraço. todo tu poema, todo tu melodia, todo tu brisa, todos os teus poros todos sentidos. e eu, as vidas todas à procura desse abraço.







segunda-feira, 15 de maio de 2017

o norte no sul










há dias em que o desejo com tanta força, que tenho medo de juntar os pontos cardeais num só. 

como hoje.









domingo, 14 de maio de 2017

tu sabes que eu sou de exageros










com uma brisa no rosto encontro uma razão para viver
numa insignificância  vejo uma bênção dos deuses
num 'bom dia' teu vejo uma história de amor









sábado, 13 de maio de 2017

conto quatro pares de óculos na mesa de cabeceira para não perder uma mensagem tua









Uma porcaria de um mail da TomTom acordou-me às seis horas. É 20% de desconto que propõem não sei para o quê. Logo hoje que podia dormir até às sete. Pus os óculos para ler o que pensava ser a tua despedida. Ia responder-te 'dorme".
Nunca chegaste e no entanto todos os dias espero que partas. Todos os dias me despeço. Todos os dias aguardo. Todos os dias me habituo à tua ausência. Todos os dias lhe digo, a ela, que te conserve.
É extenuante viver o que não existe.













sexta-feira, 12 de maio de 2017

atarantada







ficar assustada com o efeito do seu bom dia











quinta-feira, 11 de maio de 2017

amar são duas mãos em concha








abertas
para quando ele chega
para quando ele parte








quarta-feira, 10 de maio de 2017

com o coração desfolhado









amar também é vê-lo dar a mão, a ela, e eu, abraçá-la de seguida








terça-feira, 9 de maio de 2017

e vê-lo ir







amar também é deixá-lo ir











domingo, 7 de maio de 2017

sobre nós









todas as manhãs de domingo acordo mais cedo para entrar sorrateiramente na cama dele. vou largando a roupa pelo chão, pois é nua que quero chegar. então, ele acolhe-me e as curvas dos nossos corpos adequam-se perfeitamente, ajustando as convexidades com as concavidades, separadas apenas pelo espaço de um suspiro da pele.  nas manhãs de domingo não gastamos palavras. numa cadência ondulada falamos a linguagem das mãos, os murmúrios dos poros. 
são de sal os nossos beijos, de água da maré baixa.











concêntrico











fui procurar o meu amor junto ao mar, sem perceber que o levava dentro de mim.











sábado, 6 de maio de 2017

fora de água









perderam a cor, as algas vermelhas que, da praia, trouxe nos bolsos. assim será o meu amor, se eu o trouxer comigo.








sexta-feira, 5 de maio de 2017

sobrevivência








então obrigou o sorriso, levantou o rosto, escolheu um vestido, realçou os lábios, perfumou a nuca, escovou o cabelo, calçou uns sapatos rasos, e aceitou o convite. iria rir-se, brincar com as palavras, seduzir o pobre homem.









das medidas







o burburinho da minha pele fala-me da distância da pele dele.








quinta-feira, 4 de maio de 2017

eu e eu








o meu corpo cumpre todas as suas funções. acorda, veste-se, do avesso, mas veste-se, sai para a rua, vai ao café, trabalha, conversa, responde a perguntas e segue indicações, regressa a casa, faz compras online, assina o correio registado, escreve, adormece. 
a minha alma, já a minha alma, voa. acorda com ele, banha-se com ele, vela por ele, repousa nele, ama com ele, passeia-se com ele, sofre com ele, alegra-se por ele.
neste desencontro, quem me vê não me vê, onde estou não estou. na verdade, a vida passa e não a vivo, mas o tempo esfuma-se e envelheço. 
agora que o escrevo, reparo que o que de verdadeiro trago na vida, é o tempo que passa.










quarta-feira, 3 de maio de 2017

mau jeito








na verdade nunca soube amar. dizem de mim que sou seca e bruta no trato, ausente de gestos de carinho e impaciente por despedidas. 
assim, de tanto lhe querer bem, deixo-o repousar nos braços de quem o encanta e sabe amar.









terça-feira, 2 de maio de 2017

sobre o meu amor








o meu amor é um tornado fresco e manso. envolve todos os recantos do meu corpo, a minha pele arrepia-se em voo de prazer, os meus pés deixam de sentir o chão e estou com ele, mesmo onde ele não está.










segunda-feira, 1 de maio de 2017

fuga







as gaivotas gritam desesperadas
eu tenho frio
escrevo
-te