quinta-feira, 10 de novembro de 2016

e, com sorte, sonharei contigo







escrevo-te de olhos fechados
- os meus olhos já se fecharam
- pois, está a escrever de olhos fechados - dizes
estou.
fecho os olhos e imagino-te. ontem cheguei mesmo a sentir o teu corpo na minha mão. a textura da pele, a temperatura, a resistência da carne ao toque, a surpresa, a cedência.
tu pões as palavras no lugar certo, no momento certo, fazes tudo certo quando escreves. adivinhas-me, coincides-me. 
eu sorrio.
tu não me vês.
deitada, ponho os óculos para te ler, respondo, tiro os óculos, fecho os olhos, para de seguida colocar os óculos, escrever-te, tiro os óculos, fecho os olhos e começo a sonhar, para depois recomeçar tudo outra vez. brincas de não me deixar dormir, e eu deixo.
o meu corpo está tão habituado às tuas palavras, que reage antes de te ler. e tu sabes, fazes delas ondas e brisa e pluma e perfume e toque de algodão.
adormeço com os óculos postos. 
estão todos torcidos, os óculos, e o meu pescoço também.