sexta-feira, 23 de setembro de 2016

um e outro














pode-se dizer que eles chegaram à vida dela de mão dada. não em simultâneo, mas um entregou-lhe o outro, apontou-lho.
não, não se conhecem, o um e o outro, mas andam a par, e a par entraram na vida dela, como dançarinos de roda, com ela no meio. então, o que ela perguntava a um, o outro respondia, o que um lhe mostrava, o outro completava, quando um não estava, o outro desaparecia, e quando um chegava, o outro saudava-a. um escrevia e o outro mandava-lhe os poemas que o outro criara.
por longo tempo ela pensou serem, um e outro a mesma pessoa, tantas eram as coincidências. só bem mais tarde, quando na presença de um, recebia mensagens de outro, é que se convenceu que eram dois que, sem o saberem, viviam a par. um trouxe-lhe poesia, música, conhecimento, sensualidade. o outro, trouxe-lhe espiritualidade, questionamento, crescimento. 
ela encantou-se e desencantou-se e reencantou-se por um e por outro, a par. até que um dia, no mesmo dia, de um e de outro, gestos diferentes com sentidos sinónimos, afastou-se. 
um e outro, na mesma altura chegaram na sua vida, e um e outro, precisamente no mesmo momento saíram da sua vida. um, ela não sabe porquê, o outro, ela deu-lhe o porquê.
um e outro não sabem, mas vivem a par com distâncias entre eles, de muitas medidas.
quantas vezes ela se abeirou de perguntar ao um, o porquê de lhe trazer o outro para a sua vida, mas a vertigem do precipício travou-a.
caiu do inverso, do que calou.