sábado, 30 de julho de 2016

sono










desfaço-me em bocejos para que me deixem só.
e deixam.
volto a correr para ti.
estar contigo é ser eu.
aninho-me nos teus braços ausentes.
ouço palavras mudas.
aconchego-me na minha cama vazia,
contigo por dentro
de mim














sexta-feira, 29 de julho de 2016

e as gaivotas ecoam lamentos ao longe











o sol tímido da manhã amorna-me suavemente a pele, mas não me leva o arrepio do ar frio​,​ desta hora,​ no meu corpo exposto com descuido.

da mesma forma descuidada me entrego a ti
da mesma forma tocas me a alma sem me saciares o arrepio











quinta-feira, 28 de julho de 2016

sem travessia














a que brindamos?
pergunta-me, naquela noite de verão perfumada por flores que libertam o seu aroma depois de a lua nascer
a que brindamos?
insiste, e eu a pensar no perfume que paira no ar e brinca com os meus sentidos, tão cansados de um dia tão cheio de não ser eu
a que brindamos?
mais uma vez, e eu volto ali, àquele lugar, em que aquele homem que brilha quando sorri, aguarda uma resposta que eu não quero dar
brindemos à vida
respondo
ah, não, brindemos à felicidade
sugere, rindo
sim, brindemos então à nossa felicidade, à de cada um, seja lá como for. sairemos sempre a ganhar
ele meneia naquele jeito de aceitar triste
eu penso em ti e nos rios todos que nos separam













quarta-feira, 27 de julho de 2016

olha, há dias em que não se espera













olha,
tenho o meu corpo tão, mas tão cansado
olha,
tenho o meu coração tão descompassado no peito
olha,
tenho a alma deposta nas letras de uma página
olha,
tenho as janelas abertas e só passam as aves e o vento
olha,
tenho os dias que passam em fio 
olha,
há dias em que não se volta
















terça-feira, 26 de julho de 2016

anoiteceu junto ao rio













não estás.
dispo a camisola que se amacia no meu corpo e deixo que a brisa percorra os meus braços nus.
repouso.
o arrepio do vento traz-me o toque dos teus dedos ausentes.














amanhecer














enquanto falas comigo, guardo a balança no frigorífico, o telemóvel no micro-ondas. a pele arrepia-se com o calor que entra em casa por todos os lados.















segunda-feira, 25 de julho de 2016

quando regresso













quando regresso, regresso a ti.
quando me recebes, estou em casa. na casa de todas as vidas, no verdadeiro lar, caverna, toca, refúgio, cabana, abrigo, tenda, tecto que me abrigas e deixas ver as estrelas. 
contei-te das estrelas? 
é na tua forma de me acolheres inteira, nua, natura, que me abraças e me aceitas. 
e eu sou.













sábado, 23 de julho de 2016

parto















parti. 
levei-te comigo sem te levar. por dentro, visível à vista desarmada.
estarás comigo não estando, e no entanto, estando.












quinta-feira, 21 de julho de 2016

talvez nunca venhas










as cortinas do quarto ondulam dando vida aos desenhos das sombras projectadas pelos candeeiros da rua. 
pela porta aberta da varanda, entra o mar. 
sinto-lhe as algas e o embalar no corpo, da água salgada. 
o ar frio e húmido provocam arrepio, na pele toda.
agradeço. 
nas horas perdidas ele encontra sempre forma de me amparar.
fecho os olhos e sinto a maresia passar pelo meu rosto, como uma carícia, pelos meus braços, nus.
respiro mar.
tu não estás.
talvez nunca estarás.













o que não sabes sobre mim














visto sempre um casaco antes de me sentar à mesa para as refeições.













ao teu jeito













juntas palavras e ofereces-mas.
como num jogo de entertecer.
eu entro no jogo, sabendo que sabes o que não dirás.
tu continuas, sabendo que eu sei o que não digo.
com as palavras que me deixas, construo um casulo.
comigo dentro.













quarta-feira, 20 de julho de 2016

fosses tu uma âncora











a vida não é só este pedaço de querer a ti. esta necessidade de repouso, este ansiar pelo abraço.
o vento voltou a soprar de norte, a linguagem das árvores acompanha o guincho perdido das gaivotas. tudo retomará o seu lugar. o desnorte de sempre, este flutuar de mim.











terça-feira, 19 de julho de 2016

regressarei um dia a ti













fazes, 
das palavras, braços, 
das frases, abraços, 
dos poemas, colo, 
dos textos, abrigo-
me.
eu faço,
da distância, próximo,
da ausência, presença,
do silêncio, voz,
do vazio, aconchego-
te.
lá fora, as gaivotas guincham, o som dos carros na rua anunciam regressos a casa, o dia funde-se na noite. os corpos sossegam.
cá dentro, a minha alma desencontra-se de mim, o meu corpo desaprendeu o repouso. vivo desfasada da vida.














segunda-feira, 18 de julho de 2016

desatinar












este formigueiro no corpo.
estar aí estando cá.
ter-te não te tendo.
ser eu sendo outra.
flutuar com os pés na terra.
sonhar ao despertar.
ver-te sem estares aqui.











domingo, 17 de julho de 2016

o que não sabes sobre mim












engasgo-me quando como laranjas sumarentas.














sábado, 16 de julho de 2016

sinto-me nua









dispo-me.
começo por soltar o cabelo. de seguida descalço-me e sinto o fresco do chão, nos pés. tiro a camisola, desaperto o soutien e olho o peito que cresceu, com a idade ou com as hormonas, nem sei. mas gosto, e sorrio. os meus braços também são fortes e sardentos. quando me livro da saia vejo o meu ventre que se salienta por cima do corte por onde saíram vários filhos. ponho-me de lado em frente ao espelho e na verdade não é o desenho que eu gostaria de ver, mas sou eu. desde as nádegas, marcadas pela celulite que desce pelas coxas largas, encontro os riscos das varizes finas, mas muitas. parecem afluentes de rios, rios do meu sangue que entram em redemoinhos perto dos joelhos e tornam-se riachos até chegarem aos pés. a esta hora do dia os meus pés estão inchados pelo calor, pela má circulação, pela retenção de líquidos.
deixo correr a água do chuveiro e lavo-me com cuidado e método com água morna. primeiro o cabelo, e depois, pelo pescoço abaixo. a água lava-me o corpo e a alma, o shampoo e a espuma excessiva do gel de banho acariciam-me o corpo com malícia.
já enxuta, coloco os óculos e de pinça na mão procuro pelos fora do sítio.
é enquanto espalho o creme que falo com o meu corpo. agradeço aos braços por não me falharem, ao peito que me guarda o coração que vai batendo desajeitadamente, mas bate, ao ventre que se revolve por dentro e digere o alimento e as emoções, às pernas que me levam aonde eu lhes peço e aonde a minha cabeça permite, e agradeço aos pés, que me suportam o dia todo, coitados, nem sempre nas melhores condições, mas soltos, sempre que posso. 
agradeço ao corpo inteiro por me permitir viver e sentir.
visto-me
procuro roupas confortáveis, que façam o meu corpo feliz, ondular. uma recompensa pelo peso excessivo que todos os dias carrego.
com a mochila de sempre às costas, saio para a rua.

conheces-me a alma. 
conheces-me o corpo.













comentários













questionou-me a Afrodite, sobre "Então o que alimenta um blogue não são as visitas e os comentários?
Não me dou bem com silêncios... ", disse ela, e com toda a razão.
acontece que este blog é um pedaço de mim que não cabe na minha vida, que não existe. daí que comentar o que não existe, não faz sentido. não saberia como responder.
no entanto, vou interrogar a outra de mim sobre essa possibilidade e ver se chegamos a um consenso.














sexta-feira, 15 de julho de 2016

viva















sussurro-te - bom dia
e agarro-me a essas duas palavras que me dão fôlego e força e ânimo e alegria e esperança e cor e que me fazem caminhar por esse dia dentro, sem ti.
sussurrar-te - bom dia - é perceber que estou viva.












quarta-feira, 13 de julho de 2016

desencontrando









ela nunca lhe diria que o queria, que esperava por ele. 
era a sua maior vontade, mas queria a certeza de que quando ele viesse, seria por seu desejo.
ele nunca iria sem que ela lhe dissesse que o queria.
ele queria, mas teria que estar seguro de que era vontade dela.
nunca se encontraram.











terça-feira, 12 de julho de 2016

mesmo que não estejas














estou tão cansada, mas tão cansada, meu amor...mas depois tu chegas e é como se pousar a minha mão no teu peito e inspirar o ar que rodopia mesmo junto à tua pele, e sentir o calor que se solta de ti, mesmo sem te tocar, e saber que tu existes e estás mesmo quando não estás mas tens vontade de estar e só por isso, estás, então, meu amor, refaço-me e o corpo repousa e refresca e regresso a mim, na ideia de ti.












segunda-feira, 11 de julho de 2016

factos












tu és a parte alegre do meu dia.
as pernas fervem, queria mergulhá-las em água fria do mar.
estou cansada.
tu não estás. 
adormeço sentada.
tu não estás.
isto não tem nada de bonito, mas é vida.













domingo, 10 de julho de 2016

sexta-feira, 8 de julho de 2016

fica enquanto estiveres










aproximas os lábios do meu ouvido e sussurras poemas que tu mesmo compões. poemas que só são meus porque mos dizes, agora.
ouvir a tua voz é ver o mar pela primeira vez.
a cada vez, a tua voz.
a cada vez, o mar.
a cada vez, a primeira vez.














quinta-feira, 7 de julho de 2016

entrada











entras em mim por caminhos que não são da pele, nem das funduras do corpo.
ficarás, mesmo que partas.





































quarta-feira, 6 de julho de 2016

para se voltares












fecho os olhos e percorro todos os caminhos que fizeram os teus dedos pelo meu corpo.
deixei a pele mapeada, para se voltares. 
encontrarás, onde os deixaste, o arrepio, o calor, o odor a erva fresca, o rio e o murmúrio da água nas areias, aos teus ouvidos.
encontrar-te-ás no espelho do meu olhar, no diálogo da pele.

só então poderei, exausta, repousar, em ti.




















terça-feira, 5 de julho de 2016

quase













tens um modo silencioso de me deixar.
tenho um modo silencioso de te deixar partir.
quase não daríamos um pelo outro, se não fosse este querer gritante debaixo da pele dos corpos mudos.












countdown














deixo-me ficar assim. sabendo que é quando me queres na tua vida, enquanto me queres. não me interessa. fico, enquanto eu quiser. 
toco-te desta forma longinqua, arranco-te sorrisos, aligeiro-te os dias.
um dia não estarás aí.
um dia não estarei cá.










segunda-feira, 4 de julho de 2016

inacontecer














Ela diz que é o contrário, que ela não pode esquecê-lo, que a partir do momento em que não se passa nada entre eles, fica a memória infernal daquilo que não acontece.

marguerite duras


















manhã













acordo o meu corpo ainda cansado.
em silêncio, consentes-me abrigo e alimento.
reconstruo-me na tua quietude, sem que o saibas.













domingo, 3 de julho de 2016

estilhaços














leio a frase que tenho aqui ao lado. 'E é nos estilhaços dessa desintegração que, voltando a juntá-los, se pode descobrir quem somos.'. de alguma forma traz-me paz.
disse-lhe que não.
o meu corpo poderá envelhecer só.
toda a noite sonhei com comboios que não apanhei e com o carro que não encontrei, para regressar, só, a minha casa, ou a mim. sonho meu, espelho da minha vida.
quem sabe, dos estilhaços sobre alguma coisa reconstruível. quem sabe.
















sexta-feira, 1 de julho de 2016

antes que seja tarde











Nunca a palavra tranquilidade, repetida tantas vezes na boca dele, me enervou tanto.

Eu quero tocar muito antes de tocar de verdade, quero adivinhar-te o sabor, o ritmo, quero escutar as palavras no teu silêncio e ver o meu mar naquele lugar mesmo atrás dos teus olhos. Quero o ondular das folhas que a toda a hora vejo na minha janela, no teu corpo, no meu corpo. Quero a recordação mais antiga do que esta vida, do toque da tua mão, do roçar no teu corpo, da textura da tua boca, do teu corpo no meu corpo. Fusão de pele.
Não quero a tranquilidade.


Quero o repouso em ti.













ter












abro mão do que tenho para ter-te não te tendo. assim.