domingo, 8 de maio de 2016

o pijama dele















ao domingo não tiro o pijama. o dele. é assim como se o tivesse a ele também na minha pele, o cheiro do seu corpo, o cabelo desgrenhado, a forma como acolhe os meus pés nos seus, os braços à minha volta, e aquela mania de me acordar, recitando poemas ao ouvido, que ele mesmo inventa, e que me inventa.
então, não o dispo o dia todo. mas disfarço. com um blusão largo por cima, saio para a rua, e toda eu sou ainda ele também. 
saio de casa, sigo os percursos dele, tomo café na pastelaria do costume, vou ao supermercado habitual, cedo a passagem, na caixa, a um homem que traz apenas um saco de pão, e agradece, recusando. pergunta-me se quero ajuda com as minhas compras, sorrindo. percebo que sorri porque quando me inclino, ele repara na minha pele, mal coberta pelo pijama dele, que o fecho do casaco, descuidadamente deixa entrever.
subo o fecho, saio, e trago-o comigo, tão perto, tão dentro. é domingo.