Era perfectamente natural que te acordaras de él a la hora de las nostalgias, cuando uno se deja corromper por esas ausencias que llamamos recuerdos y hay que remendar con palabras y con imágenes tanto hueco insaciable. Julio Cortázar
terça-feira, 31 de maio de 2016
segunda-feira, 30 de maio de 2016
ele
eu, ausente, trago uma pele colada na minha. invisível.
domingo, 29 de maio de 2016
tu
teu corpo no meu corpo.
tu entras em todos os espaços meus e eu recebo-te, acolho-te, moldo-me em ti e tu em mim sem inicio sem fim.
todas as tuas saliências nas minhas reentrâncias.
a tua alma na minha.
os meus olhos colados nos teus.
as tuas palavras na minha boca.
não nos tocamos.
fundimos-nos.
sexta-feira, 27 de maio de 2016
eu sei
quinta-feira, 26 de maio de 2016
quarta-feira, 25 de maio de 2016
eu a outra
porque não encontro espaço dentro de mim para ser também eu, saí, para que possa, também eu ser, uma, além de mim, outra.
é que, sabes, o peito às vezes é tão pequeno e dois olhos não chegam e a pele carrega tanto desejo e a alma transcende o espaço e o tempo e eu quero tanto, mas tanto, que me desdobro, e sou mais uma outra, de mim, que estou aí estando cá, que te sinto tão dentro estando tu, aí, que trago a tua boca na minha mesmo que a tua esteja distante, e tu tão presente nessa lonjura que se ri, de nós.
é que não caibo dentro de mim com a ideia de ti.
tempo
terça-feira, 24 de maio de 2016
almoço
nas tuas rotinas, nos legumes, na fruta, no vinho, encontro os paladares que se passeiam pela tua boca. na minha, sinto a tua. o calor das especiarias, a doçura da fruta, o vinho, ainda fresco que recebo dos teus lábios.
o teu sabor.
segunda-feira, 23 de maio de 2016
tu
chegas a mim, manso, com palavras.
e como um pescador que conserta as redes, desfeitas da pescaria, tu consertas-me, lentamente.
e eu sei e eu deixo, sem resistência.
primeiro, falas do dia e do tempo.
depois, despertas-me as curiosidades.
de seguida tocas-me a alma.
e lentamente, tenho-te na pele.
eu, eu nunca ofereço resistência, e deixo-me conduzir nessa dança lenta, que nem tu, nem eu sabemos dançar, a não ser assim, nesta entrega, neste despir, nesta pele que ri, entregue, uma na outra.
vem
chegaste tarde à minha vida. queria ter um corpo jovem para te oferecer, e não tenho.
e o tempo passa e nós adiamo-nos e o corpo atrasa-se.
vem, antes que seja tarde.
ouve-me.
vem, antes que seja tarde.
gostaria de saber alongar-me em palavras, em metáforas, em poesias. mas não sei.
vem.
domingo, 22 de maio de 2016
inespacialmente
nesta sala, onde estou só, estamos os dois. preenches espaços em mim, onde não cabe mais ninguém. não estás e estás. quando ele chega, não tem espaço, e eu, de mãos vazias, de tanto te ter.
sábado, 21 de maio de 2016
tempo
Pela primeira vez sentiu a urgência do tempo que passa, no
seu corpo, naquela vontade, a cada dia a menos, a cada dia a mais.
sexta-feira, 20 de maio de 2016
coincidências
coincidiam em tudo, excepto no espaço e no tempo. até nos quereres eram vadios. viviam desasados, ele da direita, ela da esquerda. em círculos, giravam, até ao dia em que se encontrassem, e completassem.
quinta-feira, 19 de maio de 2016
almoço
sabes, o céu ficou azul, os verdes são tantos nas árvores, o mar já deve ter desistido do cinzento, o vento está manso, eu procuro aqui dentro de mim a alegria que existe quando tu estás. não a levaste contigo, não te serviria de nada.
a fórmula é intenção, acção e relaxamento - tu sabes...
quarta-feira, 18 de maio de 2016
teu
o teu colo.
o teu abraço.
o teu ombro.
o teu corpo.
os teus olhos.
os teus olhos.
onde me encontro.
terça-feira, 17 de maio de 2016
o outro
teve o bom senso de não me perguntar se tive saudades. não tive.
olhámos-nos e percebemos que passámos bem este tempo todo, um sem o outro.
talvez agora possamos construir alguma coisa.
lado a lado.
linhas
olho as marcas das linhas nos meus braços.
as cicatrizes deixadas na pele permanecerão.
não desescreverás as palavras que deixaste tracejadas em mim.
abro a porta da varanda para entrar o frio sobre o meu corpo nu.
sinto.
segunda-feira, 16 de maio de 2016
no final do dia
com todo o cuidado descolas de mim os pedaços do dia que fizeram com que me perdesse de mim. como quem solta um adesivo que descuidadamente cobriu uma queimadura e leva colado pedaços de carne.
e eu vou regressando a mim, a ti. depois, cobres-me de poemas, como se me envolvesses em pedaços de camisolas de lã, gastas, velhas, macias, destas que sabes que eu gosto.
pouco a pouco, revivo.
domingo, 15 de maio de 2016
ele
há lugares do meu corpo que só ele conhece, e deixa aí as mais secretas, eu não as consigo ver. esta manhã descobri 'aroma a relva cortada' na nuca. assim, por acaso, quando passava a mão pelos sítios onde ele pousa os beijos, estava lá, 'aroma a relva cortada', o aroma, que as palavras estavam por baixo dos cabelos.
quando me deixa palavras nas pálpebras, também não as vejo. abro os olhos, elas escondem-se, baixo as pálpebras, não as vejo. só quando ele me beija os olhos, é que por vezes, traz uma colada nos seus lábios, e aí sim. hoje trazia. colado na boca, 'mar', e a minha boca na dele bebeu a palavra, e o mar, sem que ele notasse.
dentro do corpo deixa-me malicias e vazios que esperam por ele, e nos lugares em que se aninha em mim, deixa-me vontades.
ele sabe usar bem todas as palavras das vontades e malicias. e fala-me do mar e do rio e da foz e como se juntam as águas e amainam a ondulação naquele encontro final. fala-me das marés e dos barcos e de como eles abrem caminho pelas correntes e trazem os cascos molhados ao chegar aos portos, do vento e das vestes e dos panos e dos cheiros e dos sabores e da terra e das sementes e das árvores que não resistem ao desejo de serem folhas também, e todas as palavras dele são corpo e desejo que eu desejo.
depois, quando deixa o corpo dele falar, e o coração dele encontra o bater do meu, e quando como o rio e o mar se encontram na foz e são água e sal numa só corrente. repousamos sem saber onde começamos ou acabamos, um e outro, e ele lê para mim.
há dias que parte e não volta. há dias que quero ser só. há dias em que coincidimos. há dias em que comungamo-nos.
sábado, 14 de maio de 2016
sexta-feira, 13 de maio de 2016
espesso
há momentos que deixam uma tristeza espessa dentro do peito. é assim como se esse sentimento formasse corpo dentro do nosso corpo e crescesse. então esse outro corpo dentro de nós vai tomando a forma dos nossos braços e pernas e sobe também pelas costas, pelo pescoço, até à cabeça. e tudo dói de uma dor de náusea, e o corpo verga. e eu, sentada nesta cadeira, sinto que o meu peito quer encostar-se nas minhas pernas, talvez numa tentativa de pedir colo a elas, mas fica só uma dor na curva a que obriga o corpo quase tombar sobre si mesmo.
e o que entra assim, corpo dentro é desilusão. é tempo dedicado em vão, é como se colocássemos todo o cuidado numa prenda que seria rejeitada, depois. só que essa dedicação é sangue, é carne, é suor, é vida.
e são tristezas que nos apanham assim desprevenidos. até está um dia de sol, bonito, e estamos alegre, e, de repente, vem uma palavra, um olhar distante. e basta. fica o corpo todo apanhadinho por dentro, por aquela coisa, e então dá uma vontade de sair por aí fora sem destino, e voltar, se voltar for destino.
são tristezas de sangue. do nosso. as que mais doem. quais amores, quais desamores, quais saudades, quais faltas, quais distâncias. são os olhares do nosso sangue, os que mais entristecem. ou não.
e eu, como de costume, fico sentada a tentar perceber o que tenho aqui para aprender. e nunca aprendo.
quarta-feira, 11 de maio de 2016
estamos juntos há tantas vidas
regresso a mim em ti.
trazes poemas nas pontas dos dedos e salpicas o meu corpo todo com versos.
depois, feito também menino criança, aceitas o meu corpo onde fazes ninho e confias-te, em mim.
estamos juntos há tantas vidas que se eu não fosse gente, seria ave, e encheria as tuas noites insones de cantos. reconhecer-me-ias. abrigar-me-ias.
terça-feira, 10 de maio de 2016
tu
tenho as portas da sala abertas para que entre a nortada fria que está lá fora.
e entra.
nunca entendi o vento. sinto-o e não o vejo.
dele, só ficam as marcas. nos cabelos, na pele, na areia que ele alisa quando passa.
segunda-feira, 9 de maio de 2016
domingo, 8 de maio de 2016
o pijama dele
então, não o dispo o dia todo. mas disfarço. com um blusão largo por cima, saio para a rua, e toda eu sou ainda ele também.
saio de casa, sigo os percursos dele, tomo café na pastelaria do costume, vou ao supermercado habitual, cedo a passagem, na caixa, a um homem que traz apenas um saco de pão, e agradece, recusando. pergunta-me se quero ajuda com as minhas compras, sorrindo. percebo que sorri porque quando me inclino, ele repara na minha pele, mal coberta pelo pijama dele, que o fecho do casaco, descuidadamente deixa entrever.
subo o fecho, saio, e trago-o comigo, tão perto, tão dentro. é domingo.
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